sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

ROÇA

E algumas pessoas ainda me perguntam porque é que eu quero morar na roça..
Nunca vi árvore, horta, vaca, porco ou galinha ficar dia e noite espiando a vida alheia, copiando as roupas, o cabelo e até as falas do outro..
Lá o céu é tão grande que dissipa os maus pensamentos!
E as flores são todas, coloridamente, harmoniosamente, inteligentemente diferentes.
Vacas urbanas não dão leite e seu mugido é afinado pela inveja.
Galinhas urbanas não tem pena nem das irmãs de galinheiro.
Os homens urbanos, acabam virando, verdadeiramente, porcos.
Na cidade grande horta é hortifruti, árvore apenas no parque tombado, ar é condicionado e céu
só se você achar um buraco ou outro entre os prédios.
Se der sorte, quem sabe veja uma ou duas estrelas.
Eu quero um teto azul, sem fim, sob minha cabeça cansada!
Quero um amor fértil e uma profissão quase agrária!
Estou me formando professora para chegar nas cidades mais miudinhas,
pra aprender e ensinar ao mesmo tempo!
Quero tratar minha pele com água de cachoeira e nada mais!
Depois de tantos anos de poesia, decidi que desejo falar da lagarta na casca da árvore e não das loiras oxigenadas, com vasto currículo de cama, que resolvem entrar pra política.
Depois de tantos amores que me obrigavam a tomar calmantes, decidi que quero um calmo, de verdade, com cheiro de palha, flor, terra, mato e mel. Maior ainda do que o meu, desejado
e bom pra mais de metro...
bom pra toda vida
e que ela seja bem viva!