sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Promessa


Dá o seu coração pra eu botar no colo! Vem você inteiro pra eu ninar!
Cospe o medo fora como um fumo mastigado.
Esquece essa caminhada e o chão esburacado.
Pega o tempo na palma da minha mão e vamos voltar pras noites do início do inverno,
quando nossos abraços eram eternos e poemas meus, seus preferidos.
Já não tenho ar pra acordar do meu protagonismo de sonhos... Eu quero respirar à tona da sua presença.
Meu sangue está incendiando.
Pegarei fogo de dentro pra fora se não beber você.
Essa noite, como uma promessa cumprida o fim vai virar começo e a morte vai virar vida.

domingo, 19 de agosto de 2012

Cordel de proposta boa



Ele disse que queria
fazer um cordel arretado
daqueles que rimam de lado
e dão fácil cantoria.

Eu pensei, ó coração
procê fazer um repente
pode ser possivelmente
que já tenha dom e instrução

mas pra puxar um cordel
arretado, ainda por cima
tem que ter a mão da rima
e coração de carrossel.

vou lhe dar um bom pitaco
entra todo na minha alma
que pode nem sempre ser calma
mas é rimeira de fato.

quem sabe contigo aqui dentro
eu fique mais encontrada
que eu sei que em nalguma estrada
eu acho as peças e emendo.

e enquanto cê vai me montando
com seu amor bem no centro
do cordel faço fomento
e dele vou lhe contando.

aí ocê ganha o livrerto
arretado como quer
e ainda faz de mim a mulher
mais feliz do firmamento.


Até de sapatilhas...


Quer que eu me acalme? Vem morar comigo. Deixa eu ver pelo menos acordando e antes de dormir a sua cara linda que no resto do mundo eu prometo passar só uma vista.

Você diz que me alimento mal, que durmo pouco, ando de salto demais...
Trata então de vir cozinhar pra mim! Deixo a dispensa cheia, o gaz, todos os temperos que você resolver experimentar e se eu não achar algum nas feiras acho a semente, planto, cuido só pra você deixar com o gosto que desejar!

Se eu souber que vai ser em alguma parte do seu corpo que vou deitar a cabeça, vai ver como durmo tranquila.

Por você, meu amor eu ando descalça o resto da vida, mas posso ir de sapatilhas se precisar dançar diante das nossas angústias pra elas nunca serem capazes de nos despedaçar.



quarta-feira, 15 de agosto de 2012


E a gente vai se convencendo que era tudo da nossa cabeça...
Que não tinham segundos a mais naquele carinho quase medroso.
Que os olhos castanhos, de olhar demorado não eram explosões de afeto.
Que os versos que escaparam não declaravam amor.


domingo, 12 de agosto de 2012

Ode aos desolados!


A saudade corta com ferro fundo
Vira uma costela e a outra do avesso e dá nó no tronco
Queima como os meus olhos resvalando na hemorragia de tanto chorar
Moi que nem triturador.
Saudade sem promessa de fim é prima-irmã das enfermarias

Dá pra se morrer disso!
Prometeus amorosos, refazendo-se sem parar, sem outra opção.

O som da voz saudosa, o formato do rosto, a cor dos olhos e dos cabelos.
A maneira de se mover , distração após distração claramente diante do que sente a falta.
Dá pra quase tocar o amado com a recordação emocional das texturas e do calor.
Dá pra sentir o gosto na boca do gozo e do beijo.

Receber a emoção do abraço horizontal mesmo caminhando mundo afora...
Fechar as pálpebras laçada a travesseiros pra chamar os sonhos desejados...
Lembrar detalhadamente dos orgasmos e da conexão das íris ainda um sobre o outro...
Amar o distante quando se o quer perto.

Paga-se com uma dor de amor todos os corações que abandonamos.
Cada não dito ou explicação guardada.

Como desespera carregar um sentimento forte no peito, sabendo que ele já foi sacrificado e que caberá a si próprio o manejo do tiro de misericórdia.
Aceitar que está morto o que em nós está vibrando de tão vivo é como pedirem para enterrar um bebê que acabou de nascer.

Ah que se ter piedade de um amor rejeitado!
É o pior dos destinos que pode esperar por um enamorado.



terça-feira, 7 de agosto de 2012

LÍQUIDAS



Todos os bichos que sangram, por natureza da saúde, são fêmeas.
Todas tem útero e as maneiras são iminentemente parecidas a qualquer criatura que venha ao mundo com esse gênero.
Profundas e convexas, temos eco e há uma extrema necessidade de nos sentirmos repletas!

Uma mulher olhar-se no rio que deságua dela própria é muito perigoso, porque somos naturalmente tão bonitas, que se falássemos e ouvíssemos pelos olhos de nós mesmas, ficaríamos ali por toda eternidade ou afundaríamos nas águas, em nossa busca.

As escolhas femininas são sempre legítimas, se saem do peito, ou ele é quem lhes nubla os olhos?

Universo de intensa administração. Devem ter tirado da enorme quantidade de tropeços que as mulheres dão nos corações, incluindo no seu, a ideia de vitória da força masculina.
Podem até ter razão que isso um homem sempre se gaba de ter!

Mas eu, Ofélia, transbordante e em evaporação, sei que devo inspirar bem esse ar brumático, que as provações no fim das contas são líquidas e na ebulição as fadas iluminam as mentes das irmãs sem asa!

domingo, 5 de agosto de 2012

CHUVA


Quando a chuva passar, tudo ficará resolvido
a terra seca vai retomar antiga fertilidade
os telhados estarão lavados e o sol vai vir cristalino.

Respire fundo
Agarre-se em si e veja as gotas caírem
tão parecidas com lágrimas,
tão geladas quanto ficam, por vezes os corações,
tão úmidas quanto os cabelos molhados do seu amor .

Leve as plantas pra fora de casa
e pendure a alma no varal, pra ela tomar um banho.

Dispa-se do corpo e se transfira pras nuvens
derrame-se de lá!

Quando a chuva passar, vão chegar todas as respostas...
mas deixa a mente encharcar, antes da ideia nascer.
Esteja certo de que mais à noite, vai ter um belo luar!