Perdi um belo exemplar de homem.
Era moreno, grande e masculino. Lia livros comigo no colo e colocava pra tocar as canções das minhas metáforas.
Ele ainda não era um amor... mas, se colocava muito bem.
Perdi, descuidadamente e tão sem atenção, como se fosse uma peça qualquer do meu armário, um dos pares dos meus brincos ou os minutos do tempo que geraram o atraso dessa manhã.
Homem bonito e educado, poeta como eu e cheio de falas ainda por me dizer.
Tinha o peito confortável e personagens do meu realismo fantástico tatuados nos braços.
Beijava bem, profundamente... Trazia os dentes escovados e a pele perfumada.
Eu, logicamente, me apaixonei e, apavorada com essa novidade sentimental, fiz questão de perdê-lo. Como quem descarta errado num jogo de baralho, ou esquece o anel na pia de um banheiro qualquer. Infracionando o espaço de Eros.
Tendo vivido tantos amores desestruturantes, não esperei um só instante para o mundo entre nós trabalhar e eu ver pra onde ele giraria. Peguei tudo que em mim menos gostava e atirei no colo do meu amante, como se fosse um balde d’água.
Sinais de histeria urbana. Remédio antes da dor. Gente vivendo só, uma afastada da outra.
Vou, reclamando sozinha, mancada após mancada. Presentes extraviados, poesia rabiscada. Trancando o coração nas costelas, jurando ser opcional, jurando não sentir nada.