domingo, 18 de maio de 2014

PALADAR


Eu reconheço meus amores no ato!
É como um brasão, um tipo sanguíneo.
Eles vem ironicamente diversos, com suas características humanas peculiares mas, todos com suas mesmas matrizes de sentimentos.
Eu gosto do macho alfa, do malandro rei, do diretor do espetáculo, do cantor, do oracular.
Gosto dos que me emocionam, dos que parecem meio maltratados, mas mantém o velho porte de protagonista.  Ah, como eu gosto de um nobre vira-lata!
Eu vejo lá no fundo da íris o reflexo do meu amor mais bonito. Vejo toda possibilidade do mundo e a satisfação de imaginar que será alguém, dessa estirpe, que irá estar lá, quando acontecerem..
Eles vêm me melhorar, me inspirar, me comer até os ossos, me pôr diante do meu avesso!
Eu saúdo um amor com a corte que ele merece, e o experimento de todo coração até que mostre a que veio. Nenhum deles  acontece sem propósito.
São como gigantes, titãs dentro da nossa alma. Ninguém fica impune.
E esse sal, esse amargo, esse doce são para serem degustados e, para tanto, sábio é aquele que apura o paladar.
Ao invés de reclamar dos velhos machucados do amor, usemos nossas cicatrizes como tatuagens.
Se passou, não era o definitivo! Se foi covarde não era merecedor!  Se quebrou era de vidro e o que é pouco sempre acaba.
Trago o coração todo costurado...  mas escuras ou claras, exuberantes ou simples, minhas suturas foram feitas por linhas de sentimentos dos quais me orgulho.
Quando personagens do passado, sem sono, sem dono, vêm chorar suas consciências despertadas, eu ofereço os lenços brancos da generosidade, cortados dos lençóis em que antes nos deitávamos  e onde, outrora, sonhei com eles.
Enxáguo minha alma com um rio de lágrimas e morro nessa submersão, pra me refazer Iara.
Há pra mim um grande amor, a prova está nos, tão inesquecíveis, já vividos, que ficaram pela estrada.
Tenho bom gosto pra escolher um homem, mas tenho lucidez pra perceber se ele é ou não o meu.

Eu sigo encantada, o veneno das maçãs de conhecimento só me fortalecem. Tenho castelo, carruagem, escolta... só falta o verdadeiro rei. E, de tanto sonhar, acho que nunca estarei cansada pra recebe-lo, quando, finalmente e felizmente chegar.

Um comentário:

  1. Há alguma tensidade, força, conflito ou dança da vida com o acaso bem aproveitado do agora nesse texto. Gisa é um pouco isso nesse texto talvez, mas seria mesmo um dogmatismo bobo e pueril definir algo. Prefiro o silêncio daqueles que não explicam os poetas, mas os sequestram, tomam-os como intercessores do porvir que dirá: " Há poesia, ainda há vida!"

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